“Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias”. (Martinho Lutero)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Diferenças

Algum tempo atrás resolvi assistir novamente o desenho animado Fantasia, clássico de Walt Disney de 1940. Me chamou muito a atenção um detalhe que nunca havia antes pensado e que, dessa vez, pareceu explícito. Na cena dos centauros, que interpretam a Sinfonia nº 6 de Beethoven (a Pastoral), aparecem as criaturas de diversas cores: amarelos, azuis, vermelhos… A cena vai se desenrolando até que machos e fêmeas se encontram e formam casais. O que me constrangeu é que o centauro vermelho fica com a “centaura” vermelha, o amarelo com a amarela, azul com azul, e assim por diante (você pode assistir o vídeo no Youtube clicando aqui).
Recentemente, tive a experiência de trabalhar com a Disney ao adaptar a infeliz linha “High School Music” para chicletes e pastilhas. Como bom brasileiro, achei bonito colocar nas embalagens o rapaz loirinho com a morena, e assim por diante – até para dar uma boa “variação cromática” nos rótulos. Enviamos as artes para avaliação dos licenciadores e veio a reprovação: jamais misture os casais! O rapaz loiro deve aparecer com a moça loira, o negro com a negra, o moreno com a morena. Bueno, depois de 70 anos, a Disney continua exatamente a mesma. Ou seja: você pode ser amigo de uma pessoa da outra cor, mas jamais case com ela!
Descontando a questão racista que parece não ter jeito nos pagos norte-americanos, fica ainda outra mensagem que não é tão simples de se caracterizar: o amor é compreendido como o encontro entre iguais, ele ocorre na identificação. Será mesmo?
O amor se alimentaria exclusivamente da semelhança? As diferenças são problema para o relacionamento – seja conjugal, na amizade, no trabalho ou na igreja?
Bueno, se assim fosse, meu casamento seria um fracasso. Isso porque eu e minha esposa somos muito, mas muito diferentes: eu sou designer, historiador-maisoumenos e teólogo-meia-boca. A Eliana é bióloga, professora de inglês e maquiadora. Eu leio romance histórico, ela policial. Eu gosto de ouvir debates no rádio, ela prefere música. Praticamente Eduardo e Mônica (do saudoso Renato Russo – bah, onde estão os poetas de hoje?). Mas também temos convergências: ambos gostamos de pimenta, de experimentar comidas diferentes, viajar e ler na Redenção. De qualquer forma, nosso relacionamento é muito fácil: nos divertimos tanto com as diferenças quanto com as semelhanças. O que combina com o tema abordado pelo sapiente Pr. Oswaldo Mancebo Reis, que realizou nosso casamento. Disse ele o seguinte: “As diferenças não criam problema; o que cria problemas são cinco coisas: não admitir as diferenças, não identificar as diferenças, não aceitar as diferenças, não respeitar as diferenças e não valorizar as diferenças”. Nada mais próprio para o nosso caso. Entendemos e praticamos a mensagem desde aquele dia.
A Bíblia está recheada de amigos dessemelhantes que andavam juntos: o nobre Isaías e o grosso Miquéias; o troglodita do Elias e o educado Eliseu; o idoso Ageu e o jovem Zacarias; o intrépido Paulo com o tímido Timóteo. Todos eles viveram ou trabalharam juntos em harmonia. Por quê?
Porque o amor não é pasteurizante, ele não enquadra o outro num formato pré-determinado. Pelo contrário, ele abraça a integralidade do indivíduo que convive – seja ele semelhante ou não. Simples assim.

Se você quiser ler a mensagem do Pr. Mancebo Reis supra citada, clique aqui.

Crônica escrita por André Daniel Reinke
Para Eliana Denise Grimm: companheira, amiga, suporte – esposa.

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