“Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias”. (Martinho Lutero)

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Quem é este (deus) que dá carro aos ricos e faz escárnio aos necessitados?

Outro dia eu estava parado em um sinal de transito na saída da linha amarela. Olhei para os lados e contei cinco destes adesivos de propaganda de autoria da fina flor destes “apóstolos” da chamada teologia da prosperidade. Antes que eu pudesse refletir a respeito, sinto um cutucar em meu braço, apenas um prenuncio do desconforto que se seguiria aos comentários de um amigo não cristão:

- Acha pouco? Eu vejo esta gente mentirosa desfilando santidade e desapego e só “tomando posse aqui” “prosperando com Cristo ali”; fazendo campanha para comprar carro para depois ficar desfilando pela cidade com adesivo dizendo que foi Jesus Quem deu. Visualiza: Sinal fechado, avenida movimentada. Pedintes e meninos miseráveis presentes. Fome. O que este adesivo diz a respeito do seu Deus a estes miseráveis precisando tão desesperadamente de ajuda? - Eis aqui um “deus” que dá automóveis aos ricos e se cala para nossa miséria. - Gente hipócrita que não pode aplicar na bolsa, mas investe na fogueira santa de Israel!

Claro, Conhecemos as respostas. Esta é a luta. Mas, sinceramente, está feia a coisa! Que desserviço faz ao Reino esta gente!

- Aloôô!? Jesus não padeceu na cruz para que todos tenham a sua BMW!

Que tipo de mensagem é esta que esta gente prega? E quem os segue: - Tolos ou ignorantes? Convertidos ou “impactados”? Quem vai ao açougue se pretende comprar roupas? Pode alguém buscar qualquer coisa mundana e encontrar a Deus? O dinheiro, tanto mais? Enganem-se aqui e ali, mas certas coisas são tão claras. Ditas pelo próprio Senhor Jesus! Por que esta gente decide basear seu ministério numa filosofia que torna ainda mais difícil as pessoas receberem a Salvação? E isto tudo dentro da própria igreja de Jesus! Estes pregadores ajudam o seu rebanho a se libertar de sua escravidão às coisas do mundo para buscar a Deus, ou ao contrário, o que fazem é lhes ferrar ainda mais os grilhões na carne? O que esta gente está fazendo, criando uma geração para testemunhar contra o caráter Santo de Deus?

Não tenho nada contra o dinheiro, mas a maioria serve ao dinheiro, mais inteligente é ter o dinheiro a seu serviço!

Custa muito ensinar que o nosso Senhor é sim, um Deus de providência. Um Deus de Amor que conhece e aprecia todos os desejos; medos; necessidades; e sonhos de Seus filhos? Mas e o Reino? Custa apresentar a verdade? Custa conclamar o seguir a Jesus, sem agregar junto uma listinha? A campanha infame? Tenham temor! Parem de vender terreno na lua dizendo que a imobiliária é de Jesus! Até onde eu sei o último corretor de imóveis licenciado por Deus no planeta foi Moises! Ainda assim, levou 40 anos para entregar o terreno! E moradia no Céu, só Jesus! Grátis! Sola Fide!

Aos que procuram em necessidade, melhor dizer: - Esqueçam a sua lista de Papai Noel em casa. Noel só sabe das suas renas, mas Jesus te conhece! Ele não precisa de listas! Jesus sabe de cada uma das suas necessidades! Não se preocupe com estas coisas. Nem com o que se perde, e nem com o que se ganha. Ocupe-se, somente. Ocupe-se de buscar o Pai. Faça isto em verdade total. A lista de Jesus é muito melhor, e não tem fim as Suas bênçãos e as Suas misericórdias!
 
Danilo Fernandes

Genizah
 
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Família não está nos planos da maioria dos jovens brasileiros




    A pesquisa O Sonho Brasileiro revelou o perfil do jovem brasileiros quando o assunto é religião e família.
    Considerada uma das maiores pesquisas realizadas a respeito do perfil dos jovens brasileiros, “O sonho brasileiro” foi divulgado esse mês, e seus dados já podem até ser usados como estudo base para uma nova estratégia evangelística a fim de alcançar os jovens brasileiros.
    Produzida pela agencia Box 1824, foram entrevistados em todo o país; 1784 jovens, com idade entre 18 a 24 anos, os quais colaboraram com respostas sobre temas como; economia, política, educação, família, trabalho e religião.

    A pesquisa partiu de um questionamento muito simples “Qual o seu maior sonho?”

    Para essa pergunta a pesquisa apontou que entre os jovens pesquisados brasileiros, apenas 06% tem o sonho relacionado à família. A maioria (55%) respondeu o sonho como formação profissional e emprego, 15%, a casa própria, 9%, dinheiro e 3%, carro.
    Apesar de ser apenas uma amostra entre os milhões de jovens no país, a porcentagem de mais de 90% que não estão sonhando com a família, pode ser preocupante. Essas informações coloca os brasileiros, diante de uma crise no meio dos jovens, uma vez que a família é um projeto Divino feito antes da fundação do mundo.
    Ainda falando sobre a família, “O sonho brasileiro” mostrou que para muitos jovens o modelo patriarcal de família não é mais a única referência.
Na área de religião “O Sonho brasileiro” concluiu entre os jovens brasileiros, 77% dos jovens afirmam que se sentem livres para experimentar diversas religiões, 68% dos jovens afirmam que as Igrejas deveriam ser mais flexíveis, 31% afirmam que misturam elementos de diferentes religiões para construir a sua própria crença.
    Os resultados mostram que muitos jovens que buscam, acima de tudo, o desejo de se aproximar de suas “crenças mais essenciais e do encontro de sua própria espiritualidade”, e também criar o seu próprio sincretismo.
“Espiritualidade não necessita de vertentes, significados e compromissos. Apenas uma simples crença em algo superior ou algo além do que se vive em nosso plano”.
    Quase a metade, 43%, entretanto, afirmou ter religião e ser praticante, 36% ter religião e não ser praticante. Dos respondentes, 17% afirmam ter uma espiritualidade e acreditar em algo superior, mas sem religião e 4% dos jovens brasileiros afirmam ser ateus.
    Isso pode refletir jovens com valores relacionados ao cristianismo. O Brasil possui a maior população católica e um protestantismo crescente, mas muitos não são praticantes. “Tenho um conceito próprio baseado no cristianismo e em fatos da minha vida”.
    Assim, com uma margem de erro da pesquisa de apenas 2%, a pequena amostra parece revelar que quando o assunto é religião, os jovens estão um pouco distantes de serem identificados com valores e princípios de um Cristianismo autêntico.

Fonte: The Christian Post / Folha Gospel

O Verbo 

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Comunidade mórmon nos EUA aspira a Casa Branca



    A ideia de votar em um mórmon é rejeitada por um em cada cinco americanos, segundo uma pesquisa recente.
Acreditam em um céu triplo, usam roupas íntimas especiais e não tomam café. E agora, dois deles almejam chegar à Casa Branca, enquanto uma campanha nacional se empenha em levar os mórmons ao centro da sociedade que os viu nascer.
    “Sou mórmon”, reza o lema em um enorme cartaz instalado esta semana em um dos famosos letreiros luminosos de Times Square, em Nova York, que mostra também dez fotos de pessoas em uma moto, escalando uma montanha ou mesmo sorrindo. É uma forma de desmistificar a imagem sisuda e fechada que esta comunidade sempre passou para quem não os conhece bem.
    Os mórmons ocupam posições de poder, como por exemplo, o senador democrata Harry Reid, também podem ser vistos na grande tela, como a atriz Katherine Heighl, e despertam suspiros de milhões de adolescentes, como a escritora Stéphanie Meyers com os livros da saga “Crepúsculo”.
Contudo, os mais de 6 milhões de mórmons que vivem nos Estados Unidos ainda não conseguiram se desfazer da imagem de sectários, conservadores e inclusive polígamos, apesar de esta prática ter sido proibida no final do século 19.
    A ideia de votar em um mórmon, como os candidatos republicanos à Presidência Mitt Romney e Jon Huntsman, é rejeitada por um em cada cinco americanos, segundo uma pesquisa recente da empresa de consultoria Gallup, e o segundo candidato nem se atreve a admitir se é praticante da fé.
    Quase 200 anos após sua fundação em comunidades do oeste de Nova York, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias está decidida a conquistar de uma vez por todas o coração dos EUA, residência de apenas metade de seus fiéis.
    Para isso, a campanha lançada em Times Square vai exibir o orgulho de 30 mil mórmons por painéis publicitários, laterais de ônibus e propagandas televisivas em 24 estados, a fim de expor melhor sua fé e desmistificar imagens de poligamia e hermetismo como as apresentadas na série da canal de televisão a cabo ‘HBO’, “Big Love”.
    Não será tarefa fácil, a julgar pela reação que provocam no país os capítulos mais excêntricos de sua doutrina, refletida no “Livro de Mórmon” e satirizada em um musical homônimo da Broadway.
    Segundo a igreja mórmon, é proibido fumar e beber álcool e café, deve-se jejuar no primeiro domingo do mês e muitos usam uma roupa interior de dimensões colossais, desenhada para “se resguardar da tentação e do mal”.
Através de uma devotada prática da fé, aspiram a chegar ao terceiro céu – o “Celestial”, o mais alto dos três níveis, e no qual cada um deles se transformará em deus e criará trilhões de espíritos que chegarão à Terra como novos profetas da fé.
    A poligamia, praticada por mais de 40 mil mórmons fundamentalistas, é aceita no céu, sendo que o homem, unido para a eternidade com sua esposa, pode voltar a se casar se ficar viúvo e a oficializar o novo vínculo.
    A fé mórmon exige, além disso, sacrifícios econômicos: o fiel deve destinar cerca de 10 % do salário anual à causa, como um “dízimo”, que elevou o patrimônio da igreja para nada mais nada menos US$ 30 bilhões.
    Porém, se trata de uma simples gorjeta para a maioria de seus membros, já que muitos ocupam cargos de poder nas grandes corporações do país, como na Agência Central de Inteligência (CIA) e a polícia federal americana (FBI).
    Obrigados a empreender missões de evangelização em sua juventude, os mórmons conseguiram, com perseverança, se tornar a quarta religião dos EUA, e uma das que mais cresce, com um milhão de novos membros em três anos, segundo dados da igreja.
    E no espinhoso caminho à Casa Branca, os mórmons têm a seu favor a profecia mais tipicamente americana que se pode imaginar: a que Jesus voltará à Terra e sua primeira parada será, obviamente, os EUA.

Fonte: EFE / Folha Gospel

O verbo


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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Os evangélicos e a ditadura militar




No primeiro dia foram oito horas de torturas patrocinadas por sete militares. Pau de arara, choque elétrico, cadeira do dragão e insultos, na tentativa de lhe quebrar a resistência física e moral. “Eu tinha muito medo do que ia sentir na pele, mas principalmente de não suportar e falar. Queriam que eu desse o nome de todos os meus amigos, endereços… Eu dizia: ‘Não posso fazer isso.’ Como eu poderia trazê-los para passar pelo que eu estava passando?” Foram mais de 20 dias de torturas a partir de 28 de fevereiro de 1970, nos porões do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em São Paulo.

O estudante de ciências sociais da Universidade de São Paulo (USP) Anivaldo Pereira Padilha, da Igreja Metodista do bairro da Luz, tinha 29 anos quando foi preso pelo temido órgão do Exército. Lá chegou a pensar em suicídio, com medo de trair os companheiros de igreja que comungavam de sua sede por justiça social. Mas o mineiro acredita piamente que conseguiu manter o silêncio, apesar das atrocidades que sofreu no corpo franzino, por causa da fé. A mesma crença que o manteve calado e o conduziu, depois de dez meses preso, para um exílio de 13 anos em países como Uruguai, Suíça e Estados Unidos levou vários evangélicos a colaborar com a máquina repressora da ditadura. Delatando irmãos de igreja, promovendo eventos em favor dos militares e até torturando. Os primeiros eram ecumênicos e promoviam ações sociais e os segundos eram herméticos e lutavam contra a ameaça comunista. Padilha foi um entre muitos que tombaram pelas mãos de religiosos protestantes.

O metodista só descobriu quem foram seus delatores há cinco anos, quando teve acesso a documentos do antigo Sistema Nacional de Informações: os irmãos José Sucasas Jr. e Isaías Fernandes Sucasas, pastor e bispo da Igreja Metodista, já falecidos, aos quais era subordinado em São Paulo. “Eu acreditava ser impossível que alguém que se dedica a ser padre ou pastor, cuja função é proteger suas ovelhas, pudesse dedurar alguém”, diz Padilha, que não chegou a se surpreender com a descoberta. “Seis meses antes de ser preso, achei na mesa do pastor José Sucasas uma carteirinha de informante do Dops”, afirma o altivo senhor de 71 anos, quatro filhos, entre eles Alexandre, atual ministro da Saúde da Presidência de Dilma Rousseff, que ele só conheceu aos 8 anos de idade. Padilha teve de deixar o País quando sua então mulher estava grávida do ministro. Grande parte dessa história será revolvida a partir da terça-feira 14, quando, na Procuradoria Regional da República, em São Paulo, acontecerá a repatriação das cópias do material do projeto Brasil: Nunca Mais.

Maior registro histórico sobre a repressão e a tortura na ditadura militar (leia quadro na pág. 79), o material, nos anos 80, foi enviado para o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), organização ecumênica com sede em Genebra, na Suíça, e para o Center for Research Libraries, em Chicago (EUA), como precaução, caso os documentos que serviam de base do trabalho realizado no Brasil caíssem nas mãos dos militares. De Chicago, virá um milhão de páginas microfilmadas referentes a depoimentos de presos nas auditorias militares, nomes de torturadores e tipos de tortura. A cereja do bolo, porém, chegará de Genebra – um material inédito composto por dez mil páginas com troca de correspondências entre o reverendo presbiteriano Jaime Wright (1927 – 1999) e o cardeal-arcebispo emérito de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, que estavam à frente do Brasil: Nunca Mais, e as conversas que eles mantinham com o CMI.

Somente em 1968, quatro anos após a ascensão dos militares ao poder, o catolicismo começou a se distanciar daquele papel que tradicionalmente lhe cabia na legitimação da ordem político-econômica estabelecida. Foi aí, quando no Brasil religiosos dominicanos como Frei Betto passaram a ser perseguidos, que a Igreja assumiu posturas contrárias às ditaduras na maioria dos países latino-americanos. Os protestantes, por sua vez, antes mesmo de 1964, viveram uma espécie de golpe endógeno em suas denominações, perseguindo a juventude que caminhava na contramão da ortodoxia teológica. Em novembro de 1963, quatro meses antes de o marechal Humberto Castelo Branco assumir a Presidência, o líder batista carismático Enéas Tognini convocou milhares de evangélicos para um dia nacional de oração e jejum, para que Deus salvasse o País do perigo comunista. Aos 97 anos, o pastor Tognini segue acreditando que Deus, além de brasileiro, se tornou um anticomunista simpático ao movimento militar golpista. “Não me arrependo (de ter se alinhado ao discurso dos militares). Eles fizeram um bom trabalho, salvaram a Pátria do comunismo”, diz.

Assim, foi no exercício de sua fé que os evangélicos – que colaboraram ou foram perseguidos pelo regime – entraram na alça de mira dos militares (leia a movimentação histórica dos protestantes à pág. 80). Enquanto líderes conservadores propagavam o discurso da Guerra Fria em torno do medo do comunismo nos templos e recrutavam formadores de opinião, jovens batistas, metodistas e presbiterianos, principalmente, com ideias liberais eram interrogados, presos, torturados e mortos. “Fui expulso, com mais oito colegas, do Seminário Presbiteriano de Campinas, em 1962, porque o nosso discurso teológico de salvação das almas passava pela ética e a preocupação social”, diz o mineiro Zwinglio Mota Dias, 70 anos, pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, da Penha, no Rio de Janeiro. Antigo membro do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi), que promovia reuniões para, entre outras ações, trocar informações sobre os companheiros que estavam sendo perseguidos, ele passou quase um mês preso no Doi-Codi carioca, em 1971. “Levei um pescoção, me ameaçavam mostrando gente torturada e davam choques em pessoas na minha frente”, conta o irmão do também presbiteriano Ivan Mota, preso e desaparecido desde 1971. Hoje professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Dias lembra que, enquanto estava no Doi-Codi, militares enviaram observadores para a sua igreja, para analisar o comportamento dos fiéis.

Segundo Rubem Cesar Fernandes, 68 anos, antropólogo de origem presbiteriana, preso em 1962, antes do golpe, por participar de movimentos estudantis, os evangélicos carregam uma mancha em sua história por convidar a repressão a entrar na Igreja e perseguir os fiéis. “Os católicos não fizeram isso. Não é justificável usar o poder militar para prender irmãos”, diz ele, considerado “elemento perigoso” no templo que frequentava em Niterói (RJ). “Pastores fizeram uma lista com 40 nomes e entregaram aos militares. Um almirante que vivia na igreja achava que tinha o dever de me prender. Não me encontrou porque eu estava escondido e, depois, fui para o exílio”, conta o hoje diretor da ONG Viva Rio.

O protestantismo histórico no Brasil também registra um alto grau de envolvimento de suas lideranças com a repressão. Em sua tese de pós-graduação, defendida na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), Daniel Augusto Schmidt teve acesso ao diário do irmão de José, um dos delatores de Anivaldo Padilha, o bispo Isaías. Na folha relativa a 25 de março de 1969, o líder metodista escreveu: “Eu e o reverendo Sucasas fomos até o quartel do Dops. Conseguimos o que queríamos, de maneira que recebemos o documento que nos habilita aos serviços secretos dessa organização nacional da alta polícia do Brasil.” Dono de uma empresa de consultoria em Porto Alegre, Isaías Sucasas Jr., 69 anos, desconhecia a história da prisão de Padilha e não acredita que seu pai fora informante do Dops. “Como o papai iria mentir se o cara fosse comunista? Isso não é delatar, mas uma resposta correta a uma pergunta feita a ele por autoridades”, diz. “Nunca o papai iria dedar um membro da igreja, se soubesse que havia essas coisas (torturas).” Em 28 de agosto de 1969, um exemplar da primeira edição do jornal “Unidade III”, editado pelo pai do ministro da Saúde, foi encaminhado ao Dops. Na primeira página, há uma anotação: “É preciso ‘apertar’ os jovens que respondem por este jornal e exigir a documentação de seu registro porque é de âmbito nacional e subversivo.” Sobrinho do pastor José, o advogado José Sucasas Hubaix, que mora em Além Paraíba (MG), conta que defendeu muitos perseguidos políticos durante a ditadura e não sabia que o tio havia delatado um metodista. “Estou decepcionado. Sabia que alguns evangélicos não faziam oposição aos militares, mas daí a entregar um irmão de fé é uma grande diferença.”

Nenhum religioso, porém, parece superar a obediência canina ao regime militar do pastor batista Roberto Pontuschka, capelão do Exército que à noite torturava os presos e de dia visitava celas distribuindo o “Novo Testamento”. O teólogo Leonildo Silveira Campos, que era seminarista na Igreja Presbiteriana Independente e ficou dez dias encarcerado nas dependências da Operação Bandeirante (Oban), em São Paulo, em 1969, não esquece o modus operandi de Pontuschka. “Um dia bateram na cela: ‘Quem é o seminarista que está aqui?’”, conta ele, 21 anos à época. “De terno e gravata, ele se apresentou como capelão e disse que trazia uma “Bíblia” para eu ler para os comunistas f.d.p. e tentar converter alguém.” O capelão chegou a ser questionado por um encarcerado se não tinha vergonha de torturar e tentar evangelizar. Como resposta, o pastor batista afirmou, apontando para uma pistola debaixo do paletó: “Para os que desejam se converter, eu tenho a palavra de Deus. Para quem não quiser, há outras alternativas.” Segundo o professor Maurício Nacib Pontuschka, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo, seu tio, o pastor-torturador, está vivo, mas os dois não têm contato. O sobrinho também não tinha conhecimento das histórias escabrosas do parente. “É assustador. Abomino tortura, vai contra tudo o que ensino no dia a dia”, afirma. “É triste ficar sabendo que um familiar fez coisas horríveis como essa.”

Professor de sociologia da religião na Umesp, Campos, 64 anos, tem uma marca de queimadura no polegar e no indicador da mão esquerda produzida por descargas elétricas. “Enrolavam fios na nossa mão e descarregavam eletricidade”, conta. Uma carta escrita por ele a um amigo, na qual relata a sua participação em movimentos estudantis, o levou à prisão. “Fui acordado à 1h por uma metralhadora encostada na barriga.” Solto por falta de provas, foi tachado de subversivo e perdeu o emprego em um banco. A assistente social e professora aposentada Tomiko Born, 79 anos, ligada a movimentos estudantis cristãos, também acredita que pode ter sido demitida por conta de sua ideologia. Em meados dos anos 60, Tomiko, que pertencia à Igreja Evangélica Holiness do Brasil, fundada pelo pai dela e outros imigrantes japoneses, participou de algumas reuniões ecumênicas no Exterior. Em 1970, de volta ao Brasil, foi acusada de pertencer a movimentos subversivos internacionais pelo presidente da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, onde trabalhava. Não foi presa, mas conviveu com o fantasma do aparelho repressor. “Meu pesadelo era que o meu nome estivesse no caderninho de endereço de alguma pessoa presa”, conta.

Parte da história desses cristãos aterrissará no Brasil na terça-feira 14, emaranhada no mais de um milhão de páginas do Projeto Brasil: Nunca Mais repatriadas pelo Conselho Mundial de Igrejas. Não que algum deles tenha conseguido esquecer, durante um dia sequer, aqueles anos tão intensos, de picos de utopia e desespero, sustentados pela fé que muitos ainda nutrem. Para seguir em frente, Anivaldo Padilha trilhou o caminho do perdão – tanto dos delatores quanto dos torturadores. Em 1983, ele encontrou um de seus torturadores em um baile de Carnaval. “Você quis me matar, seu f.d.p., mas eu estou vivo aqui”, pensou, antes de virar as costas. Enquanto o mineiro, que colabora com uma entidade ecumênica focada na defesa de direitos, cutuca suas memórias, uma lágrima desce do lado direito de seu rosto e, depois de enxuta, dá vez para outra, no esquerdo. Um choro tão contido e vívido quanto suas lembranças e sua dor.

Confira matéria completa no site da IstoÉ aqui

Fonte: IstoÉ


Zeitgeist, a febre.




[Não é uma febre nova, pois "não há nada de novo debaixo do sol", mas um relato interessante. E basta procurar pelas estórias egípcias, para tirar suas conclusões..]

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