“Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias”. (Martinho Lutero)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Zapping Gospel de um não crente.


O autor não é evangélico, tão pouco o blog onde o artigo foi publicado. Contudo, achei interessante postar este relato aqui no Genizah no intuito de mostrar como os programas de TV dos "picaretapóstolos" são mesmo voltados apenas ao interesse e propósito do público contribuinte gospel, longe de cumprir uma proposta digna de nota de evangelizar alguém.

Se algum dos promotores destes programas, em sinceridade, se arvora a missão de evangelização, é melhor repensar o foco e o propósito planejado, pois o que se vê ou são ações comerciais e de arrecadação de ofertas, ou um esforço para a própria manutenção do programa.

Os esquemas e truques de palco são tão óbvios, os apelos emocionais tão canastrões e a base teológica para a função teatral é tão deprimente que não há como não perceber o estelionato de base religiosa envolvendo esta corrida armamentista para ver qual "apóstolo" compra o avião maior, adquire mais horários de TV, faz mais shows, inventa o modismo mais radical e por ai vai...

Não seria melhor se o povo de Deus, efetivamente interessado em contribuir para a proclamação do Evangelho investisse na sua igreja local, nas vidas de missionários e em outras ações capazes de contribuir para que as Boas Novas cheguem a quem realmente precisa
?

O texto a seguir nem chega a ser uma visão preconceituosa do baixo neopentecostalismo de TV nacional, trata-se da opinião média de qualquer expectador dotado do mínimo de discernimento ou cultura. Lamentável.

Zapping Gospel

Vinicius Duarte

Ontem à noite, depois de muito tempo, resolvi dar aquela zapeada na programação neopentecostal televisiva, uma atividade deveras edificante.
De saída, o “Show da Fé”, (aquele que começa com um tema folk-gospel e palmas ritmadas da galera, a la Silvio Santos) do RR Soares, o homem que vende TV a cabo ungida (jabá-link gratuito). Como era o começo do programa, uma palavrinha sobre prosperidade, rei Salomão no trono do rei Davi e a galera de Israel pagando um pau pra ele, Crônicas e a coisa toda, mostrando aos fiéis que basta assumir o trono ao lado de Deus e tudo se resolverá. Aquela autoajudazinha básica pra esquentar o povo e abrir-lhes o bolso. Tava bem light, o RR.
Seguindo a ordem numérica de canais, da Band fomos ao Canal 21 (também da Band, né?), onde se apresenta Valdomiro Santiago (aquele que vende toalhinha suada e pedaço de véu por 100 reais e pede trízimo). E ali o esquema é heavy-metal: galera dando “testemunho” na platéia e ele, com aquele jeitão capiau-intimista, prometendo que vai comer galinha caipira no sítio da tiazinha conseguido pela graça de Jesus. Outra senhorinha, embevecida, recebeu uma carta daquelas empresas de cobrança (que superestimam o débito e depois oferecem “superdescontos”) e se sentiu “premiada”, vendo uma dívida de R$ 9 mil transformar-se (só com o poder da Palavra!) em “apenas” R$ 2 mil. Realmente, é um milagre. Claro que 10% do “superdesconto-prêmio-de-Jesus” irão para os já abarrotados cofres da IMPD do Valdomiro, ela garantiu. Amém?
Logo depois, visitei a videoigreja do Estevam Hernandes, em canal próprio (TV Gospel). E lá o bicho tava pegando: é carnê de Neemias, carnê do Gideão planos Diamante, Ouro, Prata e Bronze. Ao telefone, uma humilde servidora pública relacionava a celeridade de um processo judicial ganho e liquidado à obra de Jesus. Dele, mas com a corretagem espiritual de Estevam e Sônia, conseguida pela providencial aquisição de DOIS carnês do Gideão (modelo bronze, R$ 100 mensais), uma oferta de R$ 400 num culto (com a pobre fiel afirmando que era TUDO o que ela tinha na bolsa – Glória a Deus!), e, pra garantir, MAIS R$ 1.000 a título de “desafio”. Com a benção alcançada – e chequinho da Sec. Fazenda na bolsa -, 10% da bolada vão para a construção da nova sede da Renascer, em substituição àquela do Cambuci, que o Diabo fez desabar sobre a cabeça do rebanho dos Hernandes.
Nada contra as pessoas pagarem por auxílio espiritual e conforto para suas almas sofredoras. Alguns ficam viciados em psicoterapia, outros em remedinhos antidepressivos e outros bálsamos. O que me assusta, na verdade, é o poder manipulador dos pastores neopentecostais sobre grandes multidões, poder que extorque não só o dinheiro, mas a capacidade de julgamento e as decisões individuais dos fiéis, criando uma dependência psicológica bastante perigosa. Essas pessoas acreditam estar entregando a vida a Jesus Cristo e, na verdade, estão completamente disponíveis para uso e abuso de meia-dúzia de falsos profetas, apóstolos, bispos e pastores.
A idéia de “rebanho” é muito forte entre os evangélicos, mas é sempre bom lembrar que um pastor cuida de ovelhas com o intuito de retirar-lhes primeiro a lã, para depois fazer um bom assado com as pobrezinhas. Elas só servem para isso.

Em Fel com limão, divulgação Genizah 




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